Chororô e Outras Brincadeiras Inesquecíveis da Torcida do Flamengo

Dentro e fora de campo, as brincadeiras e gozações fazem parte do cotidiano dos jogadores, torcedores e até dos dirigentes. Esse clima, mesmo em um ambiente de competição acirrada, é uma das características que tornam o futebol tão cativante. Algumas piadas surgem de maneira espontânea e nem os próprios jogadores percebem que estão protagonizando cenas que logo se tornam memes ou virais.

Essas situações mostram como o futebol é uma grande fonte de entretenimento, não só pelas jogadas incríveis, mas também pela capacidade de gerar histórias engraçadas e repletas de ironia. O humor no futebol é imprevisível, e o que começa como uma provocação pode facilmente se transformar contra quem a iniciou.

Torcedores que fazem gozações contra rivais nem sempre têm o desfecho que esperam, e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. O que é motivo de risada hoje, amanhã pode ser motivo de chacota para o outro lado. Essa dinâmica constante entre humor e rivalidade é parte do espetáculo do futebol, tornando cada jogo uma oportunidade para novas histórias, piadas e situações inesperadas.

Vice de Novo

No final do século passado, o Vasco vivia boa fase, com um elenco estrelado e conquistas importantes, tanto em competições nacionais quanto internacionais. Títulos como a Libertadores de 1998 e o Campeonato Brasileiro de 1997 colocavam o time de São Januário entre os principais do país. Por outro lado, o Flamengo enfrentava um período mais complicado, sem um elenco tão estrelado e apenas com o título da Mercosul de 1999.

A diferença de qualidade entre o elenco cruzmaltino e o time rubro-negro não se refletiu nos confrontos diretos nos campeonatos cariocas do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Mesmo com o favoritismo do Vasco, o Flamengo se consolidou como uma verdadeira pedra no sapato do rival, vencendo o Campeonato Carioca nos anos de 1999, 2000 e 2001, em três finais consecutivas contra o Vasco.

Foto: Reprodução/O Globo

O ápice dessa rivalidade ocorreu na final de 2001, quando o meia Petković marcou um gol de falta nos minutos finais da partida, garantindo o título para o Flamengo e cravando de vez o termo “Tri-Vice” para o Vasco. O momento em questão é lembrado com carinho pelo Maurinho Fonseca, ex-jogador multicampeão pelo Flamengo, que o Modo Fla teve a oportunidade de entrevistar em 18/08/24.

O gol de Petković se tornou um momento icônico da história do futebol carioca, e a torcida do Mais Querido aproveitou o feito para, emplacar o rótulo de “Vice” no rival de São Januário. O apelido “Vice de Novo”, que surgiu desse tri-vice, tornou-se uma das zoeiras mais repetidas e consagradas nas arquibancadas e entre os torcedores de outros times, consolidando o título de 2001 como uma marca histórica, que foi renovada na Copa do Brasil de 2006 e no Campeonato Carioca de 2014.

Chororô

Nos anos de 2007, 2008 e 2009, o Botafogo viveu um período marcado por decepções em confrontos decisivos contra o Flamengo. Em três finais consecutivas do Campeonato Carioca, o alvinegro acabou amargando o vice-campeonato, sempre perdendo para o rubro-negro. No entanto, foi em 2008 que a rivalidade entre os dois clubes alcançou outro patamar.

Após a derrota para o Flamengo na final da Taça Guanabara, alguns jogadores do Botafogo não conseguiram conter as lágrimas, resultando em um choro coletivo que rapidamente chamou a atenção dos torcedores e da mídia. Esse momento foi emblemático, pois evidenciou a frustração de um time que parecia não conseguir superar seu maior rival em momentos decisivos.

Foto: Reprodução/Rede Globo

Pouco tempo depois, o atacante Souza, conhecido por sua irreverência e espírito provocador, não deixou a oportunidade passar. No jogo contra o Cienciano, pela Libertadores de 2008, ao marcar um gol, Souza imitou o gesto de choro dos jogadores do Botafogo, dando origem ao icônico “Chororô”.

A provocação atravessou os limites do Carioca e se espalhou pelo país, sendo replicada por torcedores e jogadores de outros clubes. O gesto do “Chororô” se tornou um símbolo da rivalidade Flamengo-Botafogo e, mesmo anos depois, ainda é utilizado como uma forma de brincadeira em momentos de vitória, deixando marcas profundas na história do futebol carioca e nacional.

Cheirinho de Hepta

Nem tudo são flores e ao longo da trajetória do Flamengo também ocorreram momentos de altos e baixos. No entanto, um fato sempre ressaltado com orgulho pelos torcedores é que, mesmo nos piores períodos, o clube jamais sofreu um rebaixamento. Um exemplo marcante de um desses altos e baixos foi o ano de 2016, uma fase de reconstrução para o Flamengo.

Naquela época, o clube vinha fazendo um grande esforço para se reestruturar, com salários pagos em dia e uma gestão mais organizada. O time teve um bom desempenho em parte do Campeonato Brasileiro daquele ano, o que animou a torcida, que começou a acreditar que o tão sonhado título do Brasileirão, o “Hepta”, estava próximo.

Foto: Reprodução/Rede Globo

Com o embalo das vitórias e a esperança crescente, a torcida rubro-negra deu início à famosa brincadeira do “Cheirinho de Hepta”, que rapidamente se espalhou entre os flamenguistas de todo o Brasil. No entanto, a temporada terminou de maneira frustrante para o Flamengo, que apesar dos bons momentos, não foi capaz de conquistar aquele título nacional.

O “cheirinho” virou motivo de piada entre os rivais e os demais clubes do país, que aproveitaram a zoeira criada pelos próprios torcedores rubro-negros. O que começou como um incentivo, acabou se virando contra o Flamengo e sua torcida, e o “Cheirinho” passou a ser lembrado pelos adversários como uma forma de zoar as expectativas não concretizadas.

Caiu em Itaquera, Já Sabe

A brincadeira do “Cheirinho” foi relembrada em uma eliminação em Itaquera, que aconteceu em 26 de setembro de 2018. Após despachar o Flamengo da Copa do Brasil, o Corinthians aproveitou o momento e publicou um emoji de nariz em seu perfil oficial no X (antigo Twitter), para tirar um sarro do Flamengo. O gesto provocou risos e, claro, uma resposta afiada da torcida rubro-negra.

Post do Corinthians após passar pelo Flamengo na Copa do Brasil de 2018.

No entanto, o futebol é repleto de reviravoltas e o Flamengo logo iniciou uma sequência de resultados que transformaram essa zoeira inicial em uma verdadeira “freguesia” por parte do time paulista. A primeira revanche veio já no ano seguinte, quando o Flamengo eliminou o Corinthians da Copa do Brasil de 2019, dando início ao que seria uma longa série de confrontos favoráveis ao clube carioca.

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Em 2022, o Flamengo voltou a cruzar o caminho do Corinthians em momentos decisivos e, mais uma vez, levou a melhor. Desta vez, o rubro-negro eliminou o clube paulista nas quartas de final da Libertadores, reforçando ainda mais a fama de freguesia. Mas o capítulo mais marcante dessa saga veio na final da Copa do Brasil daquele mesmo ano, quando o Flamengo se sagrou campeão no Maracanã, ao vencer o Corinthians nos pênaltis e adicionar um peso especial à rivalidade.

Como se já não fosse o suficiente, em 2024, o Flamengo eliminou o Corinthians novamente da Copa do Brasil, mas dessa vez foi em Itaquera, reafirmando seu domínio sobre o time alvinegro em competições mata-mata. Para muitos torcedores alvinegros, a brincadeira do “Cheirinho” acabou saindo bem cara para o Corinthians, que de rival se tornou um freguês.

Considerações Finais

O futebol segue sendo esse palco onde alegria e dor coexistem, com as brincadeiras funcionando como uma válvula de escape para lidar com as emoções intensas. A história do “Cincum e com Fracturas” exemplifica bem como essas provocações podem ser amplificadas. A fala de Jorge Jesus, depois de uma goleada de 5 a 0 sobre o Grêmio na semifinal da Libertadores de 2019, virou rapidamente um meme nacional, transformando uma declaração despretensiosa em motivo de piada entre torcedores.

O que tornou essa situação ainda mais cômica foi a confiança de Renato Gaúcho, que em diversas ocasiões afirmou que o Grêmio jogava o melhor futebol do Brasil. Como vimos ao longo do artigo, são as brincadeiras que ainda fazem do futebol um esporte “raiz”. A velha máxima de que “quem ri por último, ri melhor” muitas vezes se confirma nos gramados, especialmente quando um time entra de salto alto e subestima o outro.

Mikael Salvador
Mikael Salvador
Rubro-negro, pai de primeira viagem, formado em Gestão de Projetos pela USP, Mestrando em Montagem Industrial pela UFF, apreciador de bons livros e escritor nas horas vagas. Tenho o propósito de conectar os leitores com a essência do Flamengo, compartilhando as alegrias de uma vitória, explorando os bastidores do clube e analisando as nuances do time. Caso tenha gostado do conteúdo, considere seguir-me nas redes sociais abaixo.
ARTIGOS RELACIONADOS

12 COMENTÁRIOS

DÊ SUA OPINIÃO, DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

ÚLTIMOS ARTIGOS