Maurinho Fonseca, ex-lateral direito do Flamengo, é um nome que muitos torcedores rubro-negros lembram com carinho. Conhecido por sua raça em campo, força defensiva e apoio ao ataque, ele jogou no Mais Querido e contribuiu em jogos decisivos, ajudando o clube a conquistar títulos importantes em um período de “vacas magras”. Após pendurar as chuteiras, Maurinho seguiu um caminho natural para muitos ex-jogadores, transformando sua experiência dentro de campo em sabedoria.
Hoje, ele se dedica à carreira de treinador, aplicando os conhecimentos e a visão de jogo que adquiriu ao longo dos anos como atleta profissional e nessa nova fase, Maurinho busca transmitir aos seus comandados a mesma determinação e amor pelo futebol que o consagrou nos gramados. Em nossa entrevista, exploramos sua carreira como jogador de futebol, destacando os desafios e as conquistas que marcaram sua trajetória nos gramados.
Na entrevista, também abordamos o momento crucial de sua transição de jogador para treinador, evidenciando como ele tem continuado a contribuir para o futebol, mesmo após pendurar as chuteiras. Confira o resumo da entrevista exclusiva realizada pelo Modo Fla no dia 14/08/24 e descubra mais sobre a carreira de Maurinho Fonseca.
Como foi o seu início de carreira até alcançar o profissional?
Maurinho Fonseca: – Eu comecei no juvenil do Bragantino, antes disso eu tentei e fiz algumas avaliações na Portuguesa, Guarani, Ponte Preta e São Paulo. E passei na avaliação do Bragantino em 1991. Era um momento muito bom do Bragantino, em 90 tinha sido Campeão Paulista. E em 91 foi vice-campeão brasileiro. Eu passei no juvenil do Bragantino, de 15 para 16 anos, e fiz a base. Com 18 cheguei a fazer dois jogos pelo profissional, depois voltei pros juniores. No segundo semestre de 94, quando eu fiz 19, me profissionalizei e dali foram no Bragantino três anos jogando no profissional.
Como foi o começo da sua trajetória do Bragantino até o Flamengo?
Maurinho Fonseca: – Então, em 94, 95 e 96 foram três anos que nós (Bragantino) não chegamos nas finais, mas fizemos campanhas muito boas e alguns clubes vieram atrás da minha contratação. Lembro-me de Palmeiras, Santos e o Guarani. Na época cheguei até conversar com o Beto Zini, que era o mandatário do Guarani. E naquela época não existia a lei Pelé, a gente não tinha como sair do clube, mesmo quando acabasse o contrato, tinha que ser vendido. Eu não saía e oportunidades boas apareciam. Não acontecia a negociação e eu acabei entrando na justiça, né?
Maurinho Fonseca: – Tinha praticamente 11 salários em atraso, sendo que nessa eu consegui uma liminar e com isso apareceu o Flamengo. Foi até uma indicação do Vanderlei Luxemburgo, fiquei sabendo depois. Eu não tinha trabalhado com Vanderlei, mas ele tentou me levar pro Santos. Foi uma indicação dele para um diretor do Flamengo e aconteceu a negociação. A princípio, era através da liminar da justiça que eu tinha, mas logo após reunião do Kleber Leite (mandatário do Flamengo) com o Bragantino, a venda foi resolvida. Eu acabei vindo para o Flamengo em março de 97, se eu não me engano.
Quais foram as suas primeiras impressões ao chegar no clube carioca?
Maurinho Fonseca: – Foi uma mudança gigantesca na minha vida. Eu tinha acabado de completar 22 anos, nascido e criado no interior de São Paulo, né? Eu nasci em Votuporanga, rodei o interior, Andradina, Atibaia e Bragança Paulista, que é onde era o Bragantino. E com 22 anos acabei no Flamengo, no maior clube do Brasil, no Rio de Janeiro, essa cidade que encanta. Vendo o Júnior (treinador), e o auxiliar, que era o Leandro Peixe Frito.
Maurinho Fonseca: – Quer dizer, aqueles caras que a gente estava acostumado ver na seleção e tudo mais… Quando eu vi, estava do lado, trabalhando junto. O Romário que tinha acabado de ser Campeão em 94, quando eu nem era profissional. E três anos depois, eu estava jogando com o jogador que foi a peça fundamental para aquele título, então foi uma mudança maravilhosa, muito boa.
Como era a infraestrutura do Flamengo naquela época? O treino era realizado na Gávea?
Maurinho Fonseca: – Na época tinha a Gávea e o Fla-Barra, onde a maioria dos treinos ocorriam. De vez em quando, a gente ia para a Gávea, para fazer um treino e ficar perto da torcida. A estrutura do Fla-Barra era muito boa. Tínhamos dois campos oficiais e tinha um campo menor, de futebol de sete. Todos com uma grama muito boa…
Maurinho Fonseca: – Tinha quadra poliesportiva, piscina, quadra de areia para fazer trabalho. Então, a estrutura física do Fla-Barra era muito boa e também tinha fisioterapia, musculação e vestiário. Claro, os CT’s de hoje em dia são totalmente diferentes do que era o padrão de antigamente, mas para o padrão que nós tínhamos na época, o Fla-Barra era excelente. A Gávea tinha sim uns problemas, a grama não era tão boa como é hoje.
Maurinho Fonseca: – E lembro que tinha muito gato na Gávea e muitas vezes não podia nem sentar no chão, porque tinha cheiro de fezes de gato. Enfim, na Gávea o vestiário era muito judiado, era um vestiário que não cabia todos os atletas em dia de treino. Mas dava condição de trabalho, pois na Gávea treinava-se pouco e o treino era mais no Fla-Barra, onde o espaço era maravilhoso.
Como foi a troca da Umbro pela Nike, você notou alguma melhora em relação a distribuição?
Maurinho Fonseca: – A Umbro, eram umas camisas grandes, sabe? Eram umas camisas que a manga vinha praticamente até o cotovelo. Parecia que todas camisas eram do tamanho do Júnior Baiano e a mudança da Nike, uma coisa que eu notei, foi o tamanho da roupa, que ficou adequado para cada corpo. Isso daí era uma percepção, mas eu não me lembro de ter reclamação se faltava material.
Há algum jogo ou evento que você considera o mais especial?
Maurinho Fonseca: – Ah, foram seis anos, né? Mais de duzentos jogos, guardo na memória muita coisa. O gol do Real Madrid é um feito que é muito gostoso de lembrar, é um negócio que estou sempre fazendo entrevistas, falando sobre isso. Sempre sendo lembrado pela torcida com esse gol, foi um jogo que nós fizemos três a zero e naquela partida eu até fiz mais um gol mal anulado.
Maurinho Fonseca: – Me deram impedimento, mas eu não estava impedido… Eu até brinco que poderia ter terminado quatro a zero, com dois gols do Maurinho. Também brinco que depois daquele jogo que o Sávio foi, se valesse os dois gols que eu fiz, iria junto… O jogo contra o Peñarol foi maravilhoso, em vários sentidos, porque foi logo depois do término do brasileiro para nós. Naquela época classificava apenas oito no Brasileiro e nós ficamos de fora.
Maurinho Fonseca: – Aí, teve aquela confusão da Festa da Uva, lá no Rio Grande do Sul, e o Romário acabou saindo do Flamengo. Na volta pra cá, eu fui um pouco cobrado por causa disso, porque eu também estava junto com o Romário e o Romário foi mandando embora e eu não. Era toda uma pressão e nós ficamos sem o lateral. O Pimentel que era o lateral teve um problema e não tinha outro lateral. Na verdade tinha o Dida, que era o garoto de 19 anos, que tinha participado pouco no profissional…
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante sua passagem pelo Flamengo?
Maurinho Fonseca: – Principal dificuldade que eu tive no Flamengo foi aprender sobre a grandeza do bônus e do ônus de jogar numa equipe grande. Aquele momento nosso de 97 e 98, nós tínhamos um grande rival da época, que era o Vasco, em um momento muito bom. Lembro que em 97 foi a primeira grande pressão que senti, quando nós perdemos a Copa do Brasil, pois também vínhamos do vice-campeonato no Torneio Rio-São Paulo. E no brasileiro de 97, nós perdemos a semifinal, quer dizer, nós fomos um time que chegou em duas finais e em uma semifinal e não vencemos.
Maurinho Fonseca: – A cobrança era muito grande, o desafio foi imenso. Aonde você vai, tem o torcedor te cobrando e isso daí foi uma coisa que eu demorei um pouco para entender, mas a partir do momento que eu percebi que além da cobrança tinha o lado de respeito, o lado da história gigantesca de um clube que eu estou fazendo parte… Me apeguei a isso, foquei no trabalho e falei: Não, se eu tive condição de vir jogar no Flamengo, eu vou ter que mostrar a condição de jogar agora efetivamente no Flamengo.
Você, como jogador do Flamengo, conquistou muitos títulos:
• Campeonato Carioca (1999, 2000 e 2001)
• Taça Guanabara (1999 e 2001)
• Taça Rio (2000)
• Copa Mercosul (1999)
• Copa dos Campeões Brasileiros (2001)
Quais títulos você considera mais importantes durante sua passagem pelo Flamengo?
Maurinho Fonseca: – O título da Mercosul foi um gigantesco e principalmente porque eu joguei e participei bem de toda aquela competição, na semifinal e final eu fui titular. Foram dois jogos contra o Palmeiras e foi duríssimo. Aquele gostinho de que pegamos um time bom, forte e fomos lá…
Maurinho Fonseca: – É aquilo, nós chegamos lá com tudo e fizemos dois grandes jogos e conseguimos, isso é muito forte. Vasco em 1999, vindo de Campeonato Brasileiro e Libertadores, a pressão gigantesca em cima do Flamengo e eles com uma equipe, que no papel, era melhor que a nossa. A gente carregando toda aquela pressão, que vinha de um ano ou dois sem título, foi um jogo muito duro e nós conseguimos vencer aquele Campeonato Carioca de 99.
Maurinho Fonseca: – Aquilo ali tirou um peso das costas muito grande. O Carioca de 2000 foi maravilhoso, fizemos o primeiro jogo três a zero na final, mas ali nós já tínhamos o mental muito forte, nós sabíamos que não íamos perder aquele o título. Em 2001 foi diferente, já tinha aquela coisa que tinha que fazer mais de dois gols, né? Tinha que buscar uma vantagem e acabou fechando com aquele gol do Petković.
Como foi a sua relação com a torcida do Flamengo? Alguma história ou momento especial com os torcedores?
Maurinho Fonseca: – Em 98 a pressão ficou a beira do insuportável… Ficou muito pesada a cobrança e em algum momento pensei até que ia ter que sair do Flamengo. Mas graças a Deus, com a chegada do Carlinhos, que foi um treinador que se aproximou e que pediu que eu não fosse negociado, pois o clube estava abrindo negociação. E ali eu comecei a me reinventar dentro do clube e enfim, consegui dar essa volta por cima.
Maurinho Fonseca: – Foi um momento que no primeiro título, em 99, foi tirado um peso das costas, aquilo apagou toda a dificuldade que tinha. Porque a pressão que eu senti, em 97 e 98, foi muito forte. E até muitos se lembram do primeiro de abril, mas o primeiro de abril foi nos anos 2000. Então, assim aquilo ali já era uma pressão mais na zoação, mais na brincadeira, uma coisa muito mais leve do que eu tinha vivido entre 97 e 98.
Vamos falar sobre como foi o processo de transição da carreira de jogador para treinador.
Maurinho Fonseca: – Em 94, se eu não me engano… Bragantino e Corinthians nas quartas de finais do Brasileiro e o nosso treinador era o Cilinho. E naquele jogo ele colocou o nosso camisa 10 como se fosse o primeiro volante e empurrou eu e o Donizete Oliveira que era o segundo volante mais pra frente, para marcar pressão, então ele inverteu uma coisa que eu nunca imaginei naquela época, até aquele momento e deu super certo.
Maurinho Fonseca: – Eu fui para o jogo não acreditando que daria certo e deu certo… Aquilo ali me deu um start na vontade de começar a pensar em tática e estratégia de jogo, na época eu tinha 19 ou 20 anos. Eu terminei minha carreira com 35 anos e fui fazer os cursos que tinha de treinador na época. O Petković se tornou treinador do Criciúma e me convidou para ser seu auxiliar. Sendo que um ano antes, eu já havia sido auxiliar do Athirson no São Cristóvão.
Maurinho Fonseca: – Após o Criciúma, trabalhei no Sampaio Corrêa, ambos na Série B do Brasileiro. Depois, fui auxiliar de Alberto Félix no Bragantino, na segunda divisão do Paulista, em 2017, onde conseguimos o acesso. Após isso, segui com Petković para o Vitória, sempre como auxiliar técnico. Aí eu brinco, que o Petković foi para a televisão e eu tive que virar treinador. Fui convidado para treinar o Mageense, um time da quarta divisão, e decidi aceitar.
Você fez excelente campanha pelo Parintins no Segundo Turno do Campeonato Amazonense.
Maurinho Fonseca: – Só voltando um pouquinho atrás, depois do Mageense, eu cheguei na semifinal pelo Barra Mansa e quase obtive o acesso novamente. No Sete de Abril, cheguei a uma semifinal, mas o trabalho não teve grande destaque por ser nas divisões inferiores do Carioca. Este ano, no Parintins, foi um ano maravilhoso. No Amazonas, os três grandes clubes são o Amazonas (Série B), Manaus (que caiu para a Série D), e Manauara (vice-campeão, com a melhor campanha na primeira fase da Série D).
Maurinho Fonseca: – Depois, há times tradicionais como o Nacional, mas os maiores orçamentos estão com Amazonas, Manaus e Manauara. O Parintins tinha um orçamento muito baixo, a ponto de brincarmos que o salário de um jogador do Amazonas, Sassá, representava metade da folha salarial dos 30 jogadores do Parintins. Mesmo assim, tivemos um bom campeonato, chegando à semifinal do primeiro turno, onde perdemos nos pênaltis após um empate sem gols e dois gols anulados.
Maurinho Fonseca: – No segundo turno, vencemos a semifinal contra o Amazonas por 3 a 1, de virada. Na final, enfrentamos o Manaus, time que havíamos derrotado por 1 a 0 durante a competição, mas dessa vez perdemos por 1 a 0. Tivemos dois jogadores lesionados, o que complicou a partida, mas foi uma competição muito boa. Terminamos em segundo lugar geral, com apenas uma derrota.
Como você vê o Flamengo de hoje em comparação com o time da sua época?
Maurinho Fonseca: – O Flamengo de hoje, pela estrutura e principalmente pela parte econômica que se tornou, é muito diferente, né? No futebol atual, o Flamengo conta com grandes jogadores do futebol brasileiro, que têm mantido uma regularidade. Falando mais especificamente do presente, sobre o Tite, que é um treinador de quem eu particularmente gosto muito.
Maurinho Fonseca: – Seus números são excelentes em todos os clubes pelos quais ele passou, sempre deixando boas marcas. Ele tem uma característica de montar equipes que sofrem poucos gols. Eu costumo dizer que time que toma poucos gols chega longe nas competições. O Flamengo tem uma característica de jogar ofensivamente o tempo todo, o que foge um pouco da estratégia do Tite, mas ele é um grande treinador.
Maurinho Fonseca: – Vejo o Flamengo como favorito em qualquer competição. Claro que, depois de 2019, todos esperam que o time jogue daquela maneira avassaladora, e isso será difícil de repetir. Muitas vezes, o time pode conseguir resultados, mas ainda será cobrado porque não está jogando de forma tão ofensiva quanto o torcedor deseja.
Gostaríamos de agradecer tanto ao Maurinho Fonseca, pela disponibilidade, quanto ao João Marcos da AV Assessoria de Imprensa, que alinhou nossas agendas para essa entrevista.
Para conferir a entrevista completa em áudio, basta usar nosso player abaixo:
nem lembrava que ele tinha ganho esses títulos