Carlinhos Violino: Sempre Ajudava nas Piores Horas

A torcida do Flamengo é reconhecida por sua paixão avassaladora e pelo desejo de ver o time jogar um futebol dominante. Esta demanda por excelência leva o clube a buscar constantemente a melhor performance, um objetivo que tem cobrado um alto preço: a rotatividade excessiva de técnicos. Frequentemente, treinadores são contratados sem um planejamento estratégico adequado, resultando em padrões táticos que não se alinham com o elenco disponível. A consequência direta dessa abordagem errática na contratação de técnicos é refletida no desempenho do time em campo, com a ausência de uma filosofia de jogo consistente, evidenciando um futebol irregular, onde as oscilações de performance são constantes. Este ciclo vicioso de crises técnicas e administrativas tem sido uma constante na história do Flamengo, tanto nos tempos de instabilidade econômica, quanto nos momentos de solidez financeira.

Entretanto, ao revisitar os arquivos do passado, encontramos uma figura emblemática que simboliza a estabilidade e a capacidade de superar momentos difíceis: Luís Carlos Nunes da Silva, mais conhecido como Carlinhos Violino…

Foto: Arquivo/Agência O Globo

O Início como Jogador

Apelidado de “Espanta Crise”, Carlinhos deixou um legado no futebol que vai além dos títulos conquistados como jogador e técnico. Ele nasceu em 19 de novembro de 1937, no Rio de Janeiro e desde cedo encontrou nas ruas da cidade maravilhosa seu primeiro campo de treinamento. A jornada no Mais Querido começou de maneira modesta, como a de muitos garotos que sonham em vestir o manto rubro-negro. Sua técnica apurada e visão de jogo chamava a atenção de todos, fato que ajudou a introduzir Carlinhos ao time profissional do Flamengo, tendo seu primeiro jogo pela equipe em 13 de abril de 1958. Como jogador, também era chamado de “Violino” e isso refletia a elegância com que conduzia a bola no meio-campo, esbanjando sua classe e encantando até os torcedores que eram adeptos de times rivais.

Carlinhos contribuiu significativamente para a conquista do Torneio Rio-São Paulo de 1961, que reunia os principais clubes dos dois estados mais fortes do futebol brasileiro. Nesse título interestadual, o Mais Querido acabou superando adversários de peso, consolidando a reputação do time como uma força nacional. Ainda como jogador, ele desempenhou um papel de destaque e contribuiu para as campanhas vitoriosas do Flamengo nos Campeonatos Cariocas de 1963 e 1965. Atuando como meio-campo pelo time da Gávea, foram 514 jogos, 275 vitórias, 22 gols e 112 empates, uma carreira de 11 anos como jogador.

Foto: Reprodução/Revista Placar

Carreira como Técnico do Flamengo

Após encerrar sua brilhante carreira como jogador em 1969, Carlinhos permaneceu próximo ao clube que tanto amava. Sua transição para o papel de treinador foi marcada pela mesma serenidade e compreensão tática que o havia definido como atleta. Em 1983, ele foi chamado para assumir o comando do Flamengo pela primeira vez, em um momento em que o clube buscava uma renovação. Apesar de não ter ainda a experiência de um treinador veterano, Carlinhos trouxe consigo uma vasta bagagem de conhecimento do futebol e um entendimento íntimo da cultura e da dinâmica do Flamengo. A equipe vinha de uma fase difícil, com resultados aquém das expectativas e Carlinhos, conhecido por sua capacidade de pacificar ambientes conturbados, mais uma vez trouxe foco ao grupo. Sempre que o Flamengo enfrentava turbulências, a solução era quase sempre a mesma: Deu crise? Chame o Carlinhos Violino!

A verdadeira consagração de Carlinhos como técnico veio em 1987, quando foi substituído pelo Técnico Antônio Lopes e ainda no mesmo ano voltou para o comando do time e liderou o Flamengo na conquista do Módulo Verde da Copa União de 1987, uma competição que, devido a uma controvérsia na organização do Campeonato Brasileiro daquele ano, tornou-se extremamente simbólica. Sob sua liderança, o Flamengo não apenas venceu, mas também encantou o público com um futebol vistoso e eficiente. Nessa ocasião, Carlinhos Violino provou ser um técnico que sabia extrair o melhor de seus jogadores, mesclando experiência e juventude de forma harmoniosa. Sua capacidade de ler o jogo, fazer ajustes táticos necessários e manter o grupo unido foi determinante para o sucesso do Mais Querido em 1987.

Foto: Reprodução/Gazeta Press

Em sua quarta passagem como técnico do Flamengo, Calinhos Violino conquistou ainda mais títulos, demonstrando sua capacidade em conter crises numa época em que o Mais Querido vendia seus craques da base “a preço de banana”. As campanhas campeãs na Taça Rio e no Campeonato Carioca de 1991 foram marcadas por uma série de atuações memoráveis, incluindo vitórias decisivas contra os principais rivais, como Fluminense, Vasco da Gama e Botafogo. O segundo momento de destaque do Carlinhos Violino ocorreu em 1992 e foi marcado por um futebol ofensivo e envolvente, com jogadores como Júnior Capacete, Nélio e Gaúcho desempenhando papéis cruciais. Carlinhos conseguiu equilibrar juventude e experiência no elenco, criando uma equipe que era ao mesmo tempo disciplinada e criativa. A vitória na final contra o Botafogo, com um placar agregado de 5 a 2, foi um testemunho da superioridade tática e técnica do Flamengo sob a liderança de Carlinhos.

Em sua sexta e sétima passagem pelo Mais Querido, Carlinhos Violino conduziu o time a importantes títulos, incluindo a Copa Mercosul em 1999, a Taça Rio e o Campeonato Carioca em 2000. Essas conquistas são mais do que títulos, elas representam um período de renovação e reafirmação para o Flamengo, que passava uma por uma breve escassez de títulos importantes. Sua habilidade em transformar crises em oportunidades de sucesso deixou uma marca na história, fazendo desse técnico um verdadeiro herói para os torcedores do Flamengo. Carlinhos conseguiu não apenas demonstrar que tem estrela e trazer troféus para o clube, mas também ajudou a fortalecer a confiança e o orgulho da torcida rubro-negra. Em tempos difíceis, a lembrança dele continua a inspirar e a proporcionar esperança, mostrando que, mesmo nas maiores adversidades, a simplicidade e a sabedoria podem prevalecer. Nessas 7 passagens como técnico, ao longo de 17 anos, o saudoso Carlinhos Violino construiu um legado muito bonito no futebol, com conquistas memoráveis e em momentos de instabilidade.

Mikael Salvador
Mikael Salvador
Rubro-negro, pai de primeira viagem, formado em Gestão de Projetos pela USP, Mestrando em Montagem Industrial pela UFF, apreciador de bons livros e escritor nas horas vagas. Tenho o propósito de conectar os leitores com a essência do Flamengo, compartilhando as alegrias de uma vitória, explorando os bastidores do clube e analisando as nuances do time. Caso tenha gostado do conteúdo, considere seguir-me nas redes sociais abaixo.
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4 COMENTÁRIOS

  1. Ele deveria ter sido mais valorizado, nos anos 90 ele fez muito com pouco. Faltou reconhecimento após os títulos, mas é aquele ditado: Santo de casa não faz milagre…
    Que o Carlinhos descanse em paz! SRN!

  2. Confesso que fiquei 1 pouco chateado na Mercosul de 99, pois o time oscilou muito e o Clemer sempre entregava algum golzinho, mas a final foi maravilhosa. Violino nos ajudou muito

  3. Olha, ele ganhou muitos títulos, mas também irritou a torcida com um futebol muito burocrático…

  4. Pra mim foi o maior técnico da história do Flamengo, com valorização da nossa base ele ganhou ampeonatos importantes e ajudou a revelar muitos jogadores ee sucesso.

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