Leandro Ávila é um ex-jogador profissional de futebol, conhecido por ter feito parte da Seleção Brasileira nos anos 90, um período em que o futebol brasileiro vivia momentos de grande destaque no cenário mundial. Sua trajetória nos gramados foi marcada por conquistas expressivas e por uma regularidade na atuação que o colocou entre os grandes nomes do esporte. Ao longo de sua carreira, Leandro teve a competência de vestir a camisa dos quatro maiores clubes do Rio, um feito raro, que poucos jogadores conseguiram realizar.
A versatilidade e inteligência tática de Leandro Ávila permitiram que ele se adaptasse e jogasse em diferentes contextos, sempre mantendo um alto padrão de desempenho. Durante sua estadia no Flamengo, Leandro contribuiu diretamente para a conquista de títulos importantes, consolidando seu nome na história do clube. Entre suas conquistas mais notáveis estão 3 Campeonatos Cariocas (1999, 2000, 2001), a Copa dos Campeões do Brasil (2001) e a Copa Mercosul (1999). Descubra mais sobre a trajetória de Leandro Ávila com o resumo da entrevista exclusiva feita pelo Modo Fla em 27/08/24.
Após os treinamentos, como você se preparava para manter essa regularidade?
Leandro Ávila: – Eu sempre procurei me cuidar muito e evitava qualquer tipo de atividade física fora do treinamento profissional. Eu via jogadores comentando… – Ah, depois vamos jogar um futevôlei. Ou, tem uma pelada à noite. – O cara treinava, depois ia para o futevôlei e jogava uma pelada… Isso não dá certo. Eu via muitos jogadores fazendo isso e acabando machucados. Ainda mais hoje em dia, quando tudo está muito controlado, mais profissional. Eu sempre falei que nunca fui nenhum tipo de craque, mas eu precisava me doar 100% para render o máximo possível dentro de campo, em alto nível.
Leandro Ávila: – Por exemplo, eu não podia me dar ao luxo de render 70%… No dia em que eu rendia 70%, já jogava mal. O Romário, por exemplo, era tão craque que, no dia em que ele rendia 70%, já marcava um gol e deixava alguém na cara do gol. Então, eu não podia me dar esse luxo… Toda vez que eu saía do treino, descansava um pouco e, no máximo, ia a um restaurante comer alguma coisa. Ou dava uma passeada com a família, mas não fazia nenhuma outra atividade. Eu me alimentava bem e procurava dormir cedo.
Como era a postura dos jogadores em relação aos cuidados com a parte física após os treinos, nos anos 90?
Leandro Ávila: – Então, tinha muito jogador comprometido, muito mesmo. Agora, também tinha outros que não eram tão comprometidos… Acho que isso sempre existiu no futebol, e hoje em dia, com a internet, tudo está muito mais regulado. Todo mundo está vendo todo mundo, e se você fizer alguma coisa aqui ou for numa pelada ali, alguém vai ver e saber. Naquela época (anos 90), não tinha muito isso, né? Tinha jogador solteiro que saía dali e ia para o McDonald’s, em vez de fazer uma alimentação melhor…
Leandro Ávila: – Tinha até alguns que fumav** na época… E hoje em dia, é praticamente impossível manter isso. Então, acho que o futebol evoluiu e melhorou em alguns aspectos, mas em outros, ficou um pouco mais chato. Porque haviam jogadores que faziam esse tipo de coisa, que fumav**, que às vezes pegavam um pouco mais pesado em uma noite, mas que chegavam dentro de campo e rendiam. Tem esse lado, né? Mas o correto é se cuidar, ter uma boa alimentação e ser comprometido com o clube onde você está jogando. Hoje em dia, acho que está um pouco mais profissional.
Como foi a sensação de chegar ao Flamengo? Como era a atmosfera no clube na época?
Leandro Ávila: – Todo jogador que joga em outro time tem vontade de jogar no Flamengo. Isso sempre foi assim… Só que, às vezes, o jogador não fala porque não pega bem. Você estar em outro clube e dizer que gostaria de jogar no Flamengo, a verdade é essa. Ainda mais nos dias de hoje, com a estrutura que o Flamengo tem. Eu tive a oportunidade de passar pelos quatro grandes aqui do Rio, não foi algo que planejei, mas acabou acontecendo. E sempre foi um desafio para eu jogar em cada um deles, né? Quando fui para o Flamengo, foi o último dos quatro grandes do Rio.
Leandro Ávila: – Eu não sabia como seria recebido, como a torcida iria me receber. Só que fui recebido tão bem que me senti à vontade, me senti em casa. E o pessoal podia até reclamar… – Ah, não está jogando bem. – Mas, por onde passei, sempre procurei me doar, vestir realmente a camisa, sabe? Honrar a camisa do clube em que passei, e no Flamengo não foi diferente. Acho que encaixou, tive uma afinidade muito grande com o clube, com a torcida. Foram quatro anos que fiquei, com cinco títulos conquistados. Acho que podia ter ganho mais, podia, mas tinha muito problema interno também na época, a estrutura era totalmente diferente do que é hoje em dia…
Como foi o processo de adaptação ao Flamengo e aos novos companheiros de equipe?
Leandro Ávila: – Eu tive um pequeno problema de lesão quando cheguei em 98. Comecei a jogar, mas pouco depois tive que operar… E essa operação resultou em uma infecção hospitalar, o que agravou muito a situação. Eu fiquei 9 meses parado por causa da infecção, quando era para ficar apenas 1 mês e meio. Isso foi um problema para mim, porque atrasei minha recuperação e tive que começar tudo de novo. Quando eu estava começando a me recuperar, ainda nem estava pronto para jogar, o Carlinhos precisou de mim naquelas finais da Mercosul de 99.
Leandro Ávila: – E o Carlinhos falou… – Pô, você quer jogar? Você tem que jogar, porque vários jogadores se machucaram e tal. – Tive que entrar em campo e foi ali que começou uma afinidade maior com o Flamengo, né? Porque o título veio, e vi que, mesmo não estando 100%, eu tinha condição de evoluir mais. Então, as coisas foram fluindo aos poucos, e foi ótimo… Em 2002, eu acabei saindo, já com um pouco de dor no joelho.
O Evaristo de Macedo é conhecido pela resenha, você lembra de alguma história engraçada?
Leandro Ávila: – Eh… Eu, tive pouco tempo com o Evaristo por causa da lesão, e não estava treinando com o pessoal. Uma vez, ele entrou no departamento médico, ainda no antigo Fla-Barra, e eu estava lá. Ele viu meia dúzia de jogadores tratando… Às vezes, tratava jogadores do Sub-20, e ele olhou e viu a televisão ligada. Ele reclamou, porque sempre fazia piada com tudo. Ele falou…
Leandro Ávila: – Poxa, essa televisão ligada aí. Por isso que ninguém melhora. Pô, não vai sair daí nunca. Ficar nessa maca aí… Amanhã não vai ter mais televisão. – Ele tirou a televisão do departamento médico, e a gente ficou sem televisão. O Evaristo tinha essas histórias, mas era um bom treinador, viu? Uma pessoa fantástica também. Só tirou a nossa alegria ali, pois, enquanto a gente tratava, assistíamos à televisão.
Como você lidava com a pressão da torcida e da mídia enquanto jogava no Mais Querido?
Leandro Ávila: – Teve uma época em que o time entrou numa fase meio ruim, e a torcida invadiu a Gávea com mortei**. Aquele dia a gente teve que correr para dentro do vestiário, foi complicado. Eu lembro que alguns jogadores foram apartar, mas acabaram sendo agredi**. Infelizmente isso acontece e nada justifica a violênc**, mas quando você joga em uma grande equipe, a cobrança é muito grande, né? Como você disse, no Flamengo parece que as coisas tomam uma proporção maior, tanto para o bem quanto para o mal. Foram apenas fases boas no Flamengo daquela época.
O seu ápice foi jogar pela estrelada Seleção Brasileira dos anos 90, conte para nós como foi essa experiência.
Leandro Ávila: – Foi um sonho, né? Naquela época, o sonho de todo jogador era servir à Seleção, todo mundo tinha o desejo de ser convocado. Hoje em dia, isso mudou um pouco, nem todos têm esse sonho… O sonho da maioria é ir jogar na Europa. Mas, naquela época, lembro que fui convocado pelo Zagallo no final de 94. E o Brasil tinha acabado de ser campeão mundial. Você imagina, Dunga e Mauro Silva ali, em ótima fase, com moral. É difícil… A concorrência era muito grande, e todo time brasileiro tinha jogadores muito bons em várias posições. Era uma brig* boa, uma disputa sadia, e o Brasil conseguia, naquela década de 90, formar duas ou três seleções com facilidade.
Leandro Ávila: – E quando o Zagallo me convocou, acho que consegui aproveitar os jogos. Graças a Deus, ganhamos a maioria das partidas, empatamos uma ou duas e vencemos o restante… Mas, eu sofri um pouco com lesões, né? Fui para a Copa América de 95 e torci o tornozelo na primeira vez que entrei, com 20 minutos de jogo e tive que sair. Não fui cortado, mas acompanhei a Copa América junto com o grupo e não consegui jogar. Depois, em 96, me transferi para o Palmeiras e tive uma lesão seríssima no púbis.
Como foi o processo de transição após a carreira como jogador profissional de futebol?
Leandro Ávila: – Eu me cuidava muito, tinha uma alimentação balanceada, não bebia, já era casado e gostava de ficar em casa. Achei que jogaria uns 15, 20 anos como profissional, mas isso foi antecipado devido à lesão que tive durante minha passagem pelo Flamengo. Acabei trabalhando como auxiliar técnico com o Edinho, que na época era treinador, e rodei alguns clubes com ele: Brasiliense, Sport Recife, Athletico Paranaense e Portuguesa de São Paulo. Depois, assumi o CFZ aqui no Rio.
Leandro Ávila: – Tentei a carreira de treinador, mas já havia uma mudança no planejamento dos dirigentes, que passaram a preferir os professores de educação física… Cheguei a trabalhar como treinador em Portugal, durante um período, na segunda divisão de lá. Foi difícil para vários ex-jogadores que fizeram cursos e se prepararam. Eu fiz o curso da CBF, mas não tive muitas oportunidades e resolvi parar. Outras oportunidades surgiram, inclusive na política, onde trabalhei com Bebeto. Hoje, presto serviço também para o governo do estado e estou mais envolvido na área política.
Nós, do Modo Fla, agradecemos ao Leandro Ávila não apenas pelo tempo que nos dedicou, mas também pela maneira sincera com que nos presenteou com suas memórias e experiências. Foi muito importante ouvir e aprender com alguém que tanto contribuiu para o futebol e para o legado do Flamengo.
Para conferir a entrevista completa em áudio, basta usar nosso player abaixo: